Obama decide que não vai divulgar as fotos
Após três dias de reflexão, o presidente Barack Obama decidiu, ontem, não divulgar as fotos do corpo de Osama bin Laden por considerar que representariam um "risco para a segurança" dos Estados Unidos e poderiam ser usadas como "propaganda inflamatória" pelos radicais islâmicos.
Alguns representantes exigiram no Congresso americano a divulgação das imagens, com o objetivo de dissipar dúvidas sobre a morte do líder da rede Al Qaeda no domingo, durante o ataque de um comando americano à casa onde o terrorista estava escondido no Paquistão.
Obama considera que os riscos acarretados pela divulgação dessas imagens superam os benefícios, explicou à rede de TV americana CBS. "Discutimos esse assunto internamente, e estamos absolutamente certos de que é ele. Houve exames de DNA. Então não há dúvida sobre o fato de termos matado Osama bin Laden", afirmou o presidente.
"É muito importante impedir a divulgação das provas fotográficas como um instrumento de incitação (à violência) ou de propaganda. Isso não está de acordo com o que somos. Não queremos divulgar este material como se fosse troféu. Dada a natureza violenta da foto, (sua publicação) criaria um risco para a segurança nacional", acrescentou Obama.
O presidente descartou publicar as fotos para acabar com as desconfianças. "De qualquer forma, teorias de conspiração ao redor do mundo vão alegar que as fotos são montagens", disse. No entanto, outras imagens da operação foram divulgadas. Nelas, aparecem terroristas mortos pelos americanos.
Alguns políticos republicanos discordaram da decisão de Obama. Sarah Palin, cotada para disputar a presidência em 2012, chamou o líder americano de "covarde". "Mostre as fotos como um aviso a quem quer a destruição da América. Faz parte da missão", opinou a ex-governadora do Alasca.
O senador republicano Saxby Chambliss, que viu as fotos, afirmou que as imagens "são o que você espera de alguém que levou um tiro na cabeça. Não é bonito de se ver".
Um forte desencontro de informações entre as versões da Casa Branca sobre o ataque que matou Bin Laden tem gerado polêmicas e criado a necessidade de uma versão definitiva.
Autodefesa
Ontem, o procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, afirmou que a morte de bin Laden foi um ato de legítima defesa nacional, e que ele não fez nenhuma tentativa de se entregar. Além disso, os americanos só aceitariam a rendição se ele tirasse toda a roupa antes.
Segundo a Central de Inteligência Americana (CIA), o terrorista levava presos ao corpo o equivalente a 500 euros em dinheiro e dois números de telefone, o que indicaria que ele estava pronto para fugir a qualquer momento.
´AFOGAMENTO SIMULADO´
CIA admite que torturou suspeitos
O diretor da Central de Inteligência Americana (CIA), Leon Panetta, confirmou o uso de técnicas de tortura nos interrogatórios para obter informações que levassem ao paradeiro de Bin Laden. Ele admitiu o uso do chamado "afogamento simulado", em que se amarra um pedaço de pano ou de plástico na boca da pessoa e derrama-se água sobre seu rosto, o que a leva a inalar água - causando a sensação de afogamento.
Entre outras técnicas usadas nas prisões secretas da CIA, incluindo os centros de detenção, como o de Guantánamo em Cuba, estão manter os prisioneiros acorrentados em posições desconfortáveis por um longo período de tempo e privá-los de sono por até 180 horas. As práticas foram introduzidas no início da chamada Guerra contra o Terror, a partir de 2001, durante a gestão de George W. Bush.
Após vários anos de intensa polêmica dentro e fora dos Estados Unidos, essas técnicas caíram em desuso em 2004 e foram proibidas pelo governo do presidente Barack Obama - que assumiu o poder em 2009.
Panetta garantiu que as pistas que levaram ao líder da Al Qaeda não vieram apenas deste tipo de interrogatório, mas de "muitas fontes".
Vários oficiais que participaram das sessões afirmam que as técnicas levaram a pouca informação sobre o paradeiro do chefe da Al Qaeda. Para a organização de direitos humanos Anistia Internacional, não existe prova suficiente de que as técnicas brutais aplicadas contra os prisioneiros levaram diretamente a Osama Bin Laden.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, também descartou que a informação obtida em Guantánamo tenha sido fundamental na busca.
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