O faturamento da consultoria do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, no ano passado superou R$ 10 milhões em novembro e dezembro, os dois meses que separaram a eleição da presidente Dilma Rousseff e sua posse. A assessoria de imprensa da empresa Projeto não comentou os valores recebidos pelos serviços.
Palocci multiplicou seu patrimônio com a ajuda da consultoria, adquirindo em São Paulo um apartamento de R$ 6,6 milhões em dezembro de 2010 e um escritório de R$ 882 mil em 2009. A empresa reiterou na sexta-feira, em nota, que o crescimento de faturamento registrado em 2010 é natural como consequência do aumento do volume de contratos. A assessoria também atribuiu o aumento de recursos à "quitação antecipada pelos serviços prestados após acordo com os clientes".
Na sexta-feira, a construtora WTorre, empresa que mantém negócios com a Petrobras, confirmou, em nota oficial divulgada à imprensa, que contratou os serviços da empresa de Antonio Palocci. "A WTorre contratou a Projeto Consultoria Financeira para prestar consultoria em assuntos corporativos, assim como tem por prática acionar diversas outras empresas de assessoria", disse a empresa.
A WTorre tem negócios imobiliários com fundos de pensão e Petrobrás. O contrato do grupo com a empresa de Palocci foi revelado na sexta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo. Na nota divulgada, a WTorre tenta se desvincular de qualquer ligação entre o serviço prestado por Palocci e os contratos com órgãos públicos. "A empresa aluga ou comercializa imóveis para empresas e grandes fundos de investidores dentro das práticas do setor imobiliário", disse a empresa. "Seguindo sua estratégia de gestão transparente, a WTorre divulga trimestralmente suas demonstrações financeiras, apesar de ter capital fechado. A empresa mantém-se à disposição dos órgãos competentes para prestar qualquer esclarecimento que se faça necessário", afirmou.
A construtora negou-se a falar do conteúdo dos serviços da Projeto e do valor pago à consultoria de Palocci. No ano passado, a empresa doou R$ 2 milhões para a campanha de Dilma Rousseff (PT) e R$ 300 mil para a do tucano José Serra. Em 2006, quando disputou e ganhou uma vaga de deputado federal, Antonio Palocci recebeu R$ 119 mil em doações da empresa.
Nos últimos anos, a Petrobras manteve com a empreiteira WTorre negociações em pelo menos duas obras de grande porte no País. Uma delas é o Centro Empresarial Senado, em construção no Centro do Rio. A companhia de petróleo ocupará os dois edifícios que integrarão o empreendimento.
Doações
2 milhões de reais foram doados pela construtora WTorre para a campanha de Dilma Rousseff. A empresa também utilizou os serviços de Palocci
INVESTIGAÇÃO
Oposição propõe CPI mista
A crise que atingiu o braço direito da presidente Dilma Rousseff ganhou decibéis com o início de uma mobilização da oposição para criar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) que investigue negócios da empresa de consultoria do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
A intenção é quebrar o sigilo fiscal e bancário da empresa de consultoria do ministro, a Projeto, e verificar se houve tráfico de influência. Sem a ajuda de partidos da base aliada, a oposição não terá número suficiente de assinaturas para criar uma CPI. Para tirar a proposta do papel, a oposição precisa recolher 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado. A exposição do sigilo do ministro revelaria contatos com boa parte do PIB nacional, o que tem deixado o mercado inquieto.
A proposta de tentar uma CPI mista de deputados e senadores sobre o caso surgiu no PSDB, partido da oposição que vinha atuando de forma mais discreta no caso. O requerimento de criação da CPI avança ainda para um questionamento sobre o papel de Palocci como um dos coordenadores de campanha da presidente Dilma Rousseff ao mesmo tempo que prosperava o faturamento de sua empresa.
O próprio ministro Antonio Palocci admite que a maior parte da movimentação financeira da empresa Projeto ocorreu após a eleição de 2010.
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