A presidente da Petrobras respondeu
aos questionamentos sobre a empresa, ontem, em audiência na Comissão de
Assuntos Econômicos
No mesmo dia em que a presidente da Petrobras, Graça Foster,
participou de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos da Casa, o Senado
adiou a decisão sobre a instalação da CPI da Petrobras. Agora, a comissão para
fiscalizar a compra da refinaria de Pasadena, entre outras questões, deve ter
início somente após a Semana Santa.
Em seis
horas de depoimento, Graça Foster, admitiu que a compra da refinaria, em 2006,
“não foi um bom negócio”, mas endossou a versão de Dilma Rousseff (PT) ao
afirmar que estava incompleto o resumo que baseou a aquisição feita pela
estatal.
Oficialmente, os governistas afirmam que o Congresso Nacional precisa esperar
decisão do Supremo Tribunal Federal sobre qual comissão de inquérito deve ser
instalada no Legislativo.
Em ano eleitoral, o Palácio do Planalto teme que a investigação arranhe a
imagem de gestora da presidente Dilma.
O governo aposta no curto calendário do Congresso até junho, com o início da
Copa do Mundo, para evitar que o início dos trabalhos.
A comissão de inquérito será instalada no Senado somente depois que o plenário
decidir sobre recurso, apresentado pelo PSDB, que pede a instalação de comissão
de inquérito exclusiva da Petrobras. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
decidiu em favor da CPI ampliada, como defende o governo, derrotando o
argumento dos tucanos
que levaram a questão ao Supremo.
Audiência
Ontem, a presidente da Petrobras afirmou que “não existe operação 100% segura”
ao se referir à compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, e defendeu a posição
da presidente Dilma de que o resumo executivo que baseou a aquisição era
incompleto. Foster criticou o resumo executivo apresentado pelo então diretor
da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, ao conselho de
administração da estatal, presidido à época por Dilma. “Esse foi um resumo
executivo sem citação a duas cláusulas contratuais completamente importantes. O
valor autorizado pelo conselho (para a transação) foi de US$ 359,2 milhões”.
Segundo a presidente da empresa, quando é feita uma apresentação ao conselho de
administração, o resumo executivo deve conter todas as informações necessárias
e suficientes para a devida avaliação do que se pretende fazer. “Não existe
operação 100% segura, imagino que em nenhuma atividade comercial e certamente não
existe na indústria de petróleo e gás”, afirmou a presidente da estatal. Ela,
porém, voltou a defender que, naquele contexto, a aquisição da refinaria era
vantajosa. “No ano de 2004 nós não tínhamos o pré-sal, não tínhamos o pós-sal e
não tínhamos a previsão de aumentar o parque de refino do Brasil ”, disse.
Preço
Graça relativizou o preço pago por Pasadena, comparando o valor
total investido, de US$ 1,25 bilhão, com aquisições similares de outras
refinarias no exterior.
Segundo ela, o negócio provocou perdas de US$ 530 milhões à estatal e só passou
a dar lucro neste ano, US$ 58 milhões nos dois primeiros meses.
“Não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. É um
projeto de baixa probabilidade de recuperação do resultado”, afirmou. Segundo
Graça, a prisão do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, causou “grande
constrangimento”. Ele é alvo da Operação Lava-Jato, que apura esquema de
lavagem de dinheiro.
Diretor
da estatal critica ‘ciranda’ por eleições
O diretor corporativo e de serviços da
Petrobras, o petista José Eduardo Dutra, disse que a Petrobras não pode sofrer
tentativas de desqualificação por possíveis erros ou irregularidades e atribuiu
ataques à companhia ao ano eleitoral. “Chegou a eleição, botam de novo a
Petrobras na ciranda”, disse na solenidade de entrega do Prêmio Petrobras de
Esporte Educacional, na sede da companhia. Dutra disse que a Petrobras está
sujeita a problemas, como qualquer instituição humana.
“Em primeiro lugar, a Petrobras, como qualquer grande empresa e como qualquer
organismo ou instituição humana, não é imune a possíveis erros ou
irregularidades. Agora, não se pode usar disso para tentativas de
desqualificação da companhia”, declarou. Para Dutra, isso é um desrespeito aos milhares
de empregados da Petrobras, “competentes, capazes, dedicados e que trabalham
para a melhoria da empresa e a melhoria do Brasil”.
O diretor da estatal entrou no assunto ao explicar porque estava substituindo a
presidente da companhia, Graça Foster: “A nossa presidente estaria aqui, mas,
como vocês devem saber, ela está neste momento na Comissão de Economia do
Senado, dando depoimento em um momento que não é novidade para a Petrobras”,
ironizou.
PPS pede que haja criação de
CPMI exclusiva
Pelo PPS, o líder do partido na
Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), apresentou ontem questão de ordem pedindo a
observância da precedência entre os requerimentos de criação de comissão
parlamentar mista de inquérito (CPMI) sobre a Petrobras, favorecendo o requerimento
da oposição, apresentado no dia 2 de abril.
“Vamos reivindicar a precedência. O nosso pedido é do dia 2 de abril, e o da
base do governo, essa CPMI do fim do mundo, só foi apresentado no dia
seguinte”, disse Bueno.
Ele afirmou que o governo quer impedir a investigação da estatal. “As denúncias
contra a Petrobras são de estarrecer qualquer país, mas o PT faz de tudo para
que a CPMI não investigue”, disse. O presidente do Senado, Renan Calheiros,
disse que a questão do PPS será respondida oportunamente.
Duas
propostas
A oposição quer uma CPMI exclusivamente para investigar denúncias contra a
Petrobras, como a compra da refinaria de Pasadena (EUA), que teria sido
superfaturada. Já o governo aceita investigar a estatal, mas também quer apurar
as denúncias de cartel e favorecimento de empresas nas licitações dos metrôs,
assim como a gestão de recursos federais para o porto de Suape.
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