Na madrugada da última segunda-feira, um adolescente entrou no compartimento do trem de pouso de um avião para voar como clandestino até o Havaí.
Um assunto intrigou todo
mundo, durante a semana. A história do adolescente que fugiu de casa e
sobreviveu viajando escondido mais de quatro horas no trem de pouso de um
avião.
Quando pulou uma cerca, na
madrugada da última segunda-feira, e entrou no compartimento do trem de pouso
de um avião para voar como clandestino, o adolescente de 15 anos passou muitas
vezes perto da morte. Mas desembarcou vivo no Havaí, depois de cinco horas e
meia no ar rarefeito e com temperaturas muito abaixo de zero.
O Fantástico pergunta:
como isso aconteceu?
O avião era igual ao
Boeing-767 do vídeo acima. Provavelmente o adolescente subiu como quem sobe na
carroceria de um caminhão. Foi se apoiando no local, subiu no pneu, se segurou
nas barras e conseguiu entrar por um buraco.
Nas fotos do avião da
Hawaiian, a porta com aviso de “não pise” está cheia de pegadas do garoto. A
porta se abre repentinamente quando o avião já decolou e ganhou altitude.
“O piloto comanda o trem
pra subir: a primeira ação que acontece é a porta abrir, então, vem o trem de
pouso e entra nesse compartimento”, destaca Ricardo Perez, mecânico de
aeronaves.
Muitos passageiros
clandestinos caem do avião em voo.
“Esse avião aqui decolando
a quase 200 por hora, com porta abrindo pra recolher o trem, turbulência de ar
que acontece dentro do local é medonha. Não dá nem pra imaginar está dentro num
momento desse”, disse Ricardo Perez.
Quando a porta se fecha de
novo, o compartimento está tomado pelo trem de pouso.
Ricardo Perez: As rodas vão ficar mais ou menos nessa condição.
Sônia: Provavelmente ia se segurar em uma barra?
Perez: Sim, sim. Ou entrar nesse canto.
Sônia: Mas cabe uma pessoa?
Perez: Cabe com jeito dá pra passar. No local, seria uma forma de ficar até bem seguro. Voando abraçadinho nesse canto.
Sônia: E se ele desmaia, fica preso pelo próprio joelho.
Perez: Exatamente. Ele vai apoiar em cima desse braço e vai voar sentado.
Sônia: Provavelmente ia se segurar em uma barra?
Perez: Sim, sim. Ou entrar nesse canto.
Sônia: Mas cabe uma pessoa?
Perez: Cabe com jeito dá pra passar. No local, seria uma forma de ficar até bem seguro. Voando abraçadinho nesse canto.
Sônia: E se ele desmaia, fica preso pelo próprio joelho.
Perez: Exatamente. Ele vai apoiar em cima desse braço e vai voar sentado.
O compartimento não é
pressurizado. E quanto mais o avião sobe, mais rarefeito fica o ar. No
Instituto de Medicina Aeroespacial da Força Aérea, uma série de laboratórios
prepara aviadores para enfrentar situações de emergência.
Na câmara do vídeo acima,
é possível simular as condições de ar rarefeito em diversas altitudes e ao
mesmo tempo acompanhar as reações do organismo nessas condições. Numa altitude
de cruzeiro, por exemplo, a mais de 10 mil metros, se houver uma
despressurização da cabine, a pessoa pode perder a consciência muito rápido,
desmaiar em menos de um minuto.
O teste do vídeo acima é
de rotina. Na câmara os tripulantes vão sentindo os efeitos da hipóxia, a falta
de oxigênio no sangue. Primeiro perdem a capacidade de responder a perguntas
simples. Em seguida, a consciência.
O voo da Hawaiian Airlines
chegou aos 12 mil metros de altitude, bem mais alto que o topo do Everest.
Na subida, os gases que
estão na nossa corrente sanguínea se expandem e podem provocar embolia.
Fantástico: E isso pode matar?
“Dependendo do tamanho
dessa bolha, pode matar. Ou se não matar, produzir sequelas tipo um acidente
vascular cerebral”, disse o Coronel Marcos Leiros, diretor do Instituto de
Medicina Aeroespacial.
Tadeu: Sônia, a gente viu que esse garoto, de apenas 15
anos, enfrentou a situação de altíssimo risco. Como ele sobreviveu?
Sônia: Segundo os especialistas, quando começou o frio mais intenso, ele já estava desmaiado. E isso elimina dois fatores de risco: que são o estresse e a descarga de adrenalina. Que deixa a pessoa mais agitada, pedindo mais oxigênio. Em vez disso, o que aconteceu? Ele foi esfriando E tudo no organismo foi ficando mais lento. Os batimentos cardíacos, a menos de 30 por minuto, quando o normal é ficar entre 60, 80; a respiração espaçada; e o cérebro demandando menos oxigênio. E o oxigênio era exatamente o que ele não tinha naquela altitude.
Tadeu: Ou seja, ele estava realmente igualzinho a um animal em hibernação.
Sônia: Exatamente.
Sônia: Segundo os especialistas, quando começou o frio mais intenso, ele já estava desmaiado. E isso elimina dois fatores de risco: que são o estresse e a descarga de adrenalina. Que deixa a pessoa mais agitada, pedindo mais oxigênio. Em vez disso, o que aconteceu? Ele foi esfriando E tudo no organismo foi ficando mais lento. Os batimentos cardíacos, a menos de 30 por minuto, quando o normal é ficar entre 60, 80; a respiração espaçada; e o cérebro demandando menos oxigênio. E o oxigênio era exatamente o que ele não tinha naquela altitude.
Tadeu: Ou seja, ele estava realmente igualzinho a um animal em hibernação.
Sônia: Exatamente.
Nos hospitais do Rio, o
resfriamento de pacientes após parada cardíaca é pratica comum. Mas fora da
UTI, como garantir que essa temperatura não caia demais provocando em vez de
hibernação, a morte.
“Você tem que imaginar que
outras coisas estavam acontecendo. Ele tinha uma fonte de calor próxima ou a
hipotermia que ele se sujeitou não foi tão grande. Mas uma hipotermia grave por
cinco horas é difícil que a pessoa sobreviva”, disse o neurologista Bernardo
Liberatto.
Sônia: Passa algum tipo de calor por esses canos aí atrás?
Perez: Sim. No local, são tubulações hidráulicas. A gente tem calor, produzido pelo movimento do fluido dentro dos tubos. Além do próprio calor que vem do pneu e do freio.
Perez: Sim. No local, são tubulações hidráulicas. A gente tem calor, produzido pelo movimento do fluido dentro dos tubos. Além do próprio calor que vem do pneu e do freio.
Os pneus sobem tão quentes
que a temperatura chega aos 50 graus no local. E vai esfriando na altitude,
porque o ar fora do avião é de 60 negativo. Médicos espanhóis mediram a
temperatura dentro do trem de pouso em voo. E descobriram que depois de oito
horas, ela ficou entre seis e dez negativos. Frio, mas bem mais suportável do
que os 60 negativos do lado de fora do avião. Foi por isso que ele não morreu
congelado.
O garoto ainda escapou de
cair quando o trem se abriu, quilômetros antes da aterrissagem.
O avião estava no chão há
uma hora quando ele, já aquecido, recobrou a consciência. Saiu sozinho do
avião. Foi encontrado na pista, desorientado.
Não foi preciso milagre
para o menino sobreviver, mas uma super dose de sorte.
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