Empresário que lutava contra o câncer desde os anos 90 projetou-se para a política nacional ao se tornar vice de Lula
Morreu hoje em São Paulo, aos 79 anos, o ex-vice-presidente da República José Alencar. Mineiro de Muriaé, o empresário do setor têxtil que entrou para a política e transformou-se em vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava internado desde o início da tarde de ontem no Hospital Sírio-Libanês, pouco mais de dez dias depois de receber alta. Ainda nesta terça, haverá um velório no hospital Sírio-Libanês. Amanhã às 9h15, o corpo de Alencar será recebido com honras militares na base aérea de Brasília e subirá a rampa do Palácio do Planalto, onde será velado a partir das 10h30. O enterro acontece em Belo Horizonte, em Minas, na quinta-feira.
Alencar lutava contra o câncer desde a década de 90 e morreu por falência múltipla dos órgãos, às 14h41. Seu quadro agravou-se nesta semana, quando os médicos detectaram uma nova perfuração intestinal. O estado de saúde do ex-vice era grave ao ponto de impedir que fosse realizada uma nova cirurgia para tentar reverter o problema. Em novembro de 2010 e em julho de 2009, Alencar passou por três cirurgias para tratar o mesmo problema.
Ao longo dos anos, Alencar foi submetido a 17 cirurgias. A primeira delas foi em 1997, quando passou por um procedimento no rim e no estômago. Em 2002, passou por outra operação, na próstata. Desde 2006, foram vários procedimentos, todos eles para tratar o câncer no abdome. Uma das mais complicadas operações foi realizada no dia 25 de janeiro de 2009, quando o ex-vice-presidente ficou por 17 horas em uma sala de cirurgia para a retirada de tumores do local.
Empresário que lutava contra o câncer desde os anos 90 projetou-se para a política nacional ao se tornar vice de Lula
Desde o início
deste ano, Alencar teve de retornar em diversas ocasiões ao Sírio-Libanês. Passou por sessões de quimioterapia, tratou um quadro de hipertensão, teve um edema agudo do pulmão e precisou substituir um cateter no rim esquerdo. Nas poucas declarações públicas que concedeu nos últimos meses, fez questão de deixar claro que não temia as consequências da doença. "Não tenho medo da morte. Tenho medo da desonra", dizia.
Trajetória
Alencar nasceu em uma família humilde e montou um dos maiores conglomerados industriais do Brasil, a Coteminas. Nascido em 17 de outubro de 1931, ele havia comemorado seu aniversário apenas uma semana antes de ser internado.
José Alencar
Alencar, que era um dos 15 filhos de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, começou a dar expediente aos sete anos na loja de seu pai. Aos 18 anos, montou seu primeiro negócio com dinheiro emprestado de seu irmão mais velho. Liderou mais de uma empresa até criar a Coteminas, que nasceu de uma sociedade com o deputado Luiz de Paula Ferreira iniciada no fim da década de 60.
A atividade industrial o levou à política. Antes de entrar em sua primeira disputa eleitoral, Alencar foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Sua primeira experiência nas urnas foi frustrada. Ele disputou e perdeu a eleição para o governo de Minas Gerais em 1994. Quatro anos depois foi eleito senador com mais de 3 milhões de votos pelo PL (hoje PR).
Vice
A escolha de Alencar para ocupar a vice de Lula em 2002 foi a fórmula encontrada para vencer a resistência de setores do empresariado brasileiro ao então candidato à Presidência e ex-líder sindical. Diante do envolvimento de seu partido com o escândalo do mensalão, Alencar optou por deixar o PL em setembro de 2005 e anunciou sua entrada no nanico PRB.
No período em que esteve no governo, Alencar chegou a acumular temporariamente o Ministério da Defesa, em 2004. Somadas todas as ocasiões em que substituiu Lula em casos de viagem ou outros impedimentos, o vice passou mais de um ano no exercício da Presidência da República. Mas uma das marcas de sua atuação foi o fato de ter se transformado em um crítico bem-humorado da política de juros. As sucessivas queixas sobre o impacto das altas taxas no setor produtivo viraram uma espécie de brincadeira do vice com a imprensa e com colegas no Palácio do Planalto.
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