Enquanto a mãe da criança assegura ter tido o filho no Gonzaguinha de Messejana, a assistente social da unidade informa que não há registro de parto prematuro no domingo
Histórias de bebês que desaparecem da maternidade sempre causam revolta, comoção, intrigam. Mas a que aconteceu em Fortaleza, no Hospital Gonzaguinha de Messejana, domingo de Carnaval, é também estranha. A mãe, uma adolescente de 13 anos que engravidou no segundo mês de namoro, conta que teve o bebê, amamentou, mas saiu do hospital sem a criança porque ele precisaria ficar na incubadora. Pronto. Pois não viu mais o menino. Só se lembra do rosto branquinho, sem cabelo e parecido com o do pai.
C.L. diz que, desde que deu entrada em trabalho de parto na unidade hospitalar, com dores fortes, estranhou alguns fatores. Segundo ela, o pré-natal foi todo feito no hospital, mas nunca tinha visto um médico e uma enfermeira que entraram em contato com ela no domingo. Nos meses anteriores, soube que a previsão era que a criança nascesse até o dia 15 de março. "Porque meu útero não segurava muito tempo", conclui.
A adolescente explica que foi ao hospital com o marido, quando chegou lá fez a ficha de entrada, ficou na fila de espera, entrou na enfermaria, recebeu "injeção de força" (para induzir o parto). O marido, segundo ela, saiu do hospital por volta de 5 horas. Quando foi 6h15, o bebê nasceu.
"Vi ele (sic), ele mamou, mas disseram que ele tinha que ir para a incubadora porque não tinha cabelo, cílio, unha e não tinha como sair de lá porque não ia aguentar. Ia morrer porque é muito pequenininho", diz.
C. se recorda de um detalhe. Ao ser indagada sobre a pulseirinha de identificação colocada na mãe e na criança logo após o nascimento, ela diz que seus dados não foram descritos no bracelete da criança. "A enfermeira disse que não precisava nem do meu nome, bastava o dele, L.", conta.
Mesmo achando esses aspectos esquisitos, C. foi para casa. No dia seguinte, segunda-feira à tarde, o pai do menino e uma tia de C. foram para o hospital, no horário das visitas, para conhecer o bebê. Não conseguiram. Foi aí que a situação ficou estranha de vez. De volta ao Gonzaguinha na mesma tarde para saber o que estava acontecendo, a mãe disse que representantes do hospital disseram que ela sequer havia dado entrada.
Diante da resposta, a família resolveu chamar a Polícia. Só com a presença dos policiais do Ronda do Quarteirão, que entraram no hospital, apareceu a ficha de entrada de C.
Sem notícias, ontem a família resolveu prestar queixa na Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente. No local, a informação é que a investigação está sendo feita.
Nada consta
De acordo com a assistente social do Gonzaguinha de Messejana, Sandra Maia, a adolescente chegou a ir até o hospital, no dia 6 de março, mas nos registros da unidade não consta atendimento na sala de parto e nem o atendimento normal, já que a ficha que ela apresentou não está assinada pelo médico. O cadastro está com o nome clínica médica alterado a caneta para clínica "obstetra".
A assistente social explica que nesse caso em que meninas menores de 14 anos que dão entrada estiverem grávidas, tiverem ruptura himenal, serem portadoras de doenças sexualmente transmissíveis ou tiverem indício de ter praticado ato libidinoso, o hospital é obrigado, por lei, a fazer uma notificação compulsória porque podem ter sofrido violência sexual. "Não foi feita essa notificação".
Sandra Maia conta que a garota estava sem acompanhante e não poderia ficar sozinha para ter bebê. Ela informa, ainda, que naquela noite nenhum parto prematuro foi realizado.
POSSÍVEL SOLUÇÃO
Exame de corpo de delito vai ser realizado hoje
A menina de 13 anos que diz ter perdido o filho dentro do Hospital Gonzaguinha de Messejana deve realizar o exame de corpo delito hoje pela manhã, conforme a delegada da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca), Ivana Timbó.
A garota esteve ontem na Perícia Forense para fazer o exame, mas estava sem documentação. A delegada, que acompanha o caso, explica que o corpo de delito é o primeiro passo para desvendar a história, até porque vai detectar se ela passou ou não por um parto recente. Ivana Timbó diz que ainda é cedo para tirar conclusões.
Segundo a delegada, C.L. esteve, na última terça-feira, na Dececa e registrou um Boletim de Ocorrência, mas só apresentou uma cartilha de saúde da gestante para provar que estava grávida. "Com isso, foi expedida uma guia para que ela fizesse o corpo de delito", revela.
O Hospital Gonzaguinha de Messejana deve disponibilizar, hoje, as câmeras de segurança que mostram se a garota esteve ou não na sala de parto. A delegada explica que com as imagens e com o resultado do exame vai ser possível chegar a alguma conclusão. "Por enquanto, não posso dizer nada, mas se houver crime o caso será encaminhado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) de Fortaleza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário