Obama reconheceu a importância econômica brasileira e falou sobre áreas em que os dois países podem reforçar parcerias, como energia limpa e cooperação científica
Em discurso bem-humorado, com frases em português e citações sobre o Brasil, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou no Rio de Janeiro que a transição feita pelo Brasil da ditadura para a democracia é um modelo para o mundo árabe. O líder estadunidense disse ainda que deseja "fortalecer a amizade" dos EUA com o país.
Falando a uma plateia de mais de duas mil pessoas no Theatro Municipal do Rio, Obama disse que "a transição para a democracia no Brasil nos anos 1980 pode servir de exemplo às nações do Oriente Médio".
Um dia após a coalizão dos EUA, França, Grã-Bretanha, Canadá e Itália atacarem a Líbia, Obama falou sobre o país governado por Muammar Kadafi há 41 anos. "Temos visto o povo da Líbia assumir uma corajosa posição contra um regime determinado a brutalizar seus próprios cidadãos", disse.
Para Obama, o Brasil mostrou que a ditadura pode se transformar em uma "vibrante democracia" e levar "liberdade e oportunidades ao povo".
Economia poderosa
O presidente americano afirmou ainda que o Brasil emergiu de décadas de mau desempenho para se tornar uma economia poderosa que tem muitos valores em comum com os EUA.
De acordo com ele, uma antiga piada de que o Brasil seria sempre um "país do futuro" não é mais verdadeira. "Para o povo do Brasil, o futuro chegou", afirmou, sendo seguido de calorosos aplausos da plateia.
Como no sábado, Obama citou as áreas em que Brasil e EUA têm parceria e que elas poderiam ser reforçadas. Isso inclui os setores de energia limpa, cooperação científica e tecnologia.
O presidente também comentou sobre a maior comunidade japonesa fora do Japão que vive em São Paulo para pregar ajuda do Brasil aos japoneses na sua hora de maior necessidade, uma referência ao terremoto seguido de tsunami registrado no último dia 11 de março que já deixou mais de 7.000 mortos no país asiático.
Carisma
No pronunciamento, ele também falou de futebol, de democracia, citou o escritor Paulo Coelho e trecho de musica de Jorge Ben Jor. Obama disse estar triste por Chicago não ter sido escolhida para as Olímpiadas de 2016, mas que apoiaria 100% a realização dos jogos olímpicos no Rio. Ele citou também a história de superação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente americano iniciou sua fala falando em português: "Alô", "Cidade Maravilhosa" e "todo povo brasileiro" para conquistar a plateia. Em meio a elogios ao Brasil, afirmou: "Como disse o cantor, o Brasil é um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza", em referência a Jorge Ben Jor.
Semelhanças
Obama disse que Brasil e EUA têm cultura e história parecidas, incluindo a luta contra poderes coloniais e seus povos multiculturais. "Nos tornamos colônias reclamadas por reinos distantes, mas rapidamente declaramos nossa independência. Acolhemos ondas de imigrantes em nossas costas, e eventualmente limpamos a mancha da escravidão de nossa terra", comparou. O discurso estava previsto para ocorrer na Cinelândia, em local aberto. No entanto, foi transferido na sexta-feira para o interior do Theatro Municipal.
Discurso foi interessante, mas não trouxe surpresas
O discurso de Barack Obama no Rio "foi interessante", mas não trouxe nada de surpreendente, analisou o professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Victor Melo.
Melo disse que o discurso pode significar para os dois países um momento novo de relacionamento no cenário internacional. Seria "um certo realinhamento das prioridades".
O professor da UFRJ avaliou, porém, como "protocolar" o discurso de Obama. "Achei interessante, mas nada entusiasmante", completou.
Para o especialista em Relações Internacionais, o americano Ryan Hemming, o discurso do presidente reforçou a intenção da Casa Branca de estreitar laços com o Brasil. O especialista também destacou o fato de Obama ter ressaltado as semelhanças entre Brasil e EUA na luta pacífica pela democracia.
Políticos
A visita do presidente foi elogiada por oposicionistas e governistas. A ausência do ex-presidente Lula na recepção a Obama, em Brasília, também recebeu elogios dos dois lados. Para parlamentares, foi um gesto de respeito à gestão de Dilma Rousseff.
"O Brasil ganha com isso (visita de Obama) porque fortalece a imagem do país no exterior. As potencialidades do Brasil são ressaltadas ao mundo", afirmou ontem o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR). Segundo ele, os efeitos imediatos são uma propaganda positiva do País no exterior.
Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), "a visita mostra o respeito e a importância que o Brasil tem hoje no mundo. É uma marca importante da Dilma".
"MOMENTO INOPORTUNO"
Nos EUA, mídia faz críticas à visita
Os principais veículos de comunicação dos Estados Unidos avaliaram ontem como inoportuna a viagem do presidente Barack Obama ao Brasil. Um dos argumentos usados foi a abstenção do Brasil na votação, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, sobre a resolução que cria uma zona de exclusão aérea na Líbia e permite uma intervenção contra tropas de Muammar Kadafi - posição contrária à dos EUA.
São muitos os motivos para melhorar as ligações com o Brasil, segundo os jornais, apesar de Obama não atender aos dois grandes desejos dos brasileiros: um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e a retirada de taxas à importação do etanol.
O jornal Washington Post avaliou a viagem como controversa. Já a rede de TV CNN classificou a viagem de Obama de awkward, ou seja, inábil.
Para o canal de TV FoxNews, a viagem é uma espécie de férias e uma tentativa de fugir dos problemas internos. No jornal New York Times, o apoio de Obama ao pedido do Brasil de um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) foi considerado "modesto".
A mídia dos E UA manifestou descontentamento com o fato de os presidentes Obama e Dilma Rousseff terem se recusado a responder perguntas da imprensa. Os jornais elogiaram, no entanto, a franqueza de Dilma nas críticas à política americana de dólares baratos, barreiras comerciais e subsídios.
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